Mercado à moda Antiga - foi assim...

29 outubro 2014

A persistência realiza o impossível. O mercado à Moda antiga começou há muitos dias para os componentes do Rancho de Alviobeira. Tantos foram os pormenores pensados com antecedência para que o mercado fosse um sucesso. O sábado começou bem cedo com a preparação dos bolos, do pão, das brendeiras com petingas, do arroz doce, das pataniscas, das petingas… Ao final da tarde a garagem da Cidália, o nosso “armazém” de serviço, começou a encher-se devido à generosidade de tantos. Os cheiros ainda mais intensos devido à humidade, começavam a encher o espaço e a criar no íntimo de cada um de nós, o desejo de que o dia do mercado chegasse o mais rápido possível. E cada um foi chegando ao armazém com qualquer coisa para o mercado, cebolas, batatas, couves, marmelos, limões, flores, nozes, amêndoas, castanhas, pão, broas, brendeiras, ervas e chás da Ti Júlia… Nós lá íamos dividindo os produtos, colocando-os nos cestos de verga e nas canastras e fazendo os preços… Na rua, os homens tratavam dos currais para os animais. Se a véspera do mercado por um lado é um dia longo, agitado, de grande stress, por outro proporciona momentos únicos de convívio e animação. No domingo o despertador tocou bem cedo, muito era o trabalho a fazer. A noite tinha sido chuvosa, mas a esperança de um dia com um céu nublado com algumas abertas era muita. Colocámos as tasquinhas e os produtos para venda na rua. Os animais: burros, porcos, galos, galinhas, vitelos, cabritos, ovelhas, cavalos, começaram a chegar. E aos poucos a rua do Comércio ganhou uma nova vida e um novo colorido. Pelas 9H tudo estava pronto para começar a venda, mas a chuva parecia ainda estar mais ansiosa pelo nosso mercado e marcou presença desde a abertura até ao final. Mas o mercado fez-se mesmo debaixo de chuva que em certas alturas era de tal forma intensa que nos obrigava a proteger tudo e a procurar o abrigo mais perto. Mas quando a chuva abria tréguas, o mercado ganhava novamente vida. Aquecia-se os pés e a roupa na fogueira que estava pensada para fritar os velhoses mas que acabou por ter outra utilidade, bebia-se um café da “chicolateira”, e apregoava-se os produtos, cada um tentando criar o pregão mais divertido e apelativo… e a venda continuava… À volta da fogueira ouvia-se histórias contadas pela comadre Luísa e brincava-se com o fumo, já que antigamente se costumava dizer que o fumo perseguia as mais formosas. Á hora do almoço juntámo-nos debaixo do telheiro do Zé da Loja e da Cidália, e partilhámos os almoços. Assamos a carne trazida pelo Sr. José Manel e os colhões de porco que o António Freitas tinha comprado, as migas, arroz, galinha, e tantas outras coisas trazidas pelos componentes, e comemos, bebemos, conversámos e brincámos. São estes momentos que fazem de nós aquilo que somos. Quando há coisas que não conseguimos controlar, o único remédio é aproveitar o momento e retirar dele o melhor que podemos. E o melhor é sempre o convívio, a alegria, a generosidade de tantos que mesmo a chover quiseram marcar presença no nosso mercado. No final do dia, já com as coisas guardadas na garagem, que mais parecia estar pronta para outro mercado, tal era a confusão, com os dedos dos pés e das mãos enrugados, com o corpo cansado e regelado, o trajo a pesar uma tonelada, ouvia-se as vozes animadas desta gente que tanto admiro, que não baixa os braços perante os contratempos, que ri quando muitas vez mais apetece chorar, que não tem medo de nada, que tenta transformar as catástrofes em momentos de aprendizagem e crescimento… esta gente que às vezes zanga-se, grita e ralha, mas que se ama e respeita, como uma família. Uma família que não se fecha em si própria mas sempre aberta a novos membros, a novas ideias, a novos saberes. Os agradecimentos, esses são muitos, porque muitas são as pessoas que nos ajudam e fazem acreditar que vale a pena continuar. Embora os melhores agradecimentos sejam aqueles que vão para além das palavras e traduzem-se em gestos, deixamos aqui o nosso muito obrigado aos componentes pela persistência e loucura, aos donos dos animais pela boa vontade, aos visitantes pela generosidade, aos comunicadores e reportes de imagem pela divulgação, aos amigos pela dedicação. O que não nos mata, torna-nos mais fortes, e aqui estamos nós mais fortes, mais unidos, com mais força para os próximos mercados e projectos que aí vêm. Para acabar o ano, lá para o primeiro ou segundo fim-de-semana de Novembro, dependendo da cozedura do vinho, haveremos de aquecer a alma e o coração com o “nosso” vinho nas adegas mais tradicionais da aldeia na Ronda das Adegas a nossa última atividade de 2014, ou não, já que este Rancho não pára e Alviobeira Acontece

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