INTIMIDADES

22 julho 2015


O solar da quinta da Eira, em Ceras, foi o primeiro local onde apresentámos "Intimidades", um espetáculo que é na sua essência um momento de homenagem aos nossos trajos. Um trabalho que mistura a palavra, o som, a cor, a imagem, o movimento, o corpo. Ficámos encantados pela magia do solar, pela beleza da construção e por toda a história que aquele local nos parecia querer contar… - lugares mágicos que nos enchem a alma. Somos sem dúvida um pouco dos lugares que trazemos em nós e a partir daquele momento guardámos bem cá dentro, as emoções vividas naquele dia. As pedras do solar foram ganhando vida à medida que apresentámos os nossos trajos e quase que coraram quando revelámos as nossas roupas interiores. E houve uma fervilhar de emoções que ainda hoje sentimos quando falamos, ou passamos no solar, que depois do espetáculo voltou a adormecer, num silêncio profundo. Em 2014, quisemos repetir o Intimidades, escolhemos a "nossa" Alviobeira, mais propriamente a rua do Comércio para a sua apresentação e se a casa da eira, e o seu fabuloso cenário deu ao Intimidades uma melancolia e uma tranquilidade inexplicáveis, a Rua do Comércio trouxe ao Intimidades uma proximidade e outras vibrações, também elas únicas e mágicas. Em 2015, não poderíamos deixar o "Intimidades" esquecido, e porque não levá-lo novamente a um local onde as pedras contam histórias?! Depois de conhecer a adega e a eira nos Calvinos por altura da Ronda das Adegas, pareceu-nos ser aquele o lugar que procurávamos. São lugares que nos fazem bem à alma, pela sua história, simplicidade, beleza e silêncio. E se à tarde, durante os ensaios, o sol queimou os corpos, à noite, a brisa suave que se fazia sentir e o céu que parecia ter sido pintado por um artista, revitalizou-nos a alma. Ficámos perplexos ao saber que muitos não conheciam aquele espaço, a verdade é que passamos demasiado tempo fechados nas nossas casas, sem darmos conta das maravilhas que existem, bem ao nosso lado. Esperamos (RFEA) conseguir despertar nas pessoas o interesse pelo património rural, constituído ao mesmo tempo por elementos materiais e imateriais, de infinita riqueza e fazer com que as pessoas tenham orgulho no património existente no seu território. Este património, que urge preservar, funciona igualmente como motor de desenvolvimento do território em que se situa. Reconhecer o valor do passado, proteger e valorizar o património rural, torná-lo conhecido, acessível e interativo com as populações rurais é uma tarefa indispensável à manutenção dos equilíbrios ecológicos, à preservação da autoestima e do desenvolvimento económico, social e cultural. Esta é sem dúvida uma tarefa de todos nós. Voltando ao nosso espectáculo, o público começou a aparecer por volta das 21H e a eira começou a ganhar cor e vida. Ouviu-se histórias de outros tempos, contadas pela boca dos mais antigos, que fizeram questão em assistir ao Intimidades. E a população de Calvinos compareceu e tornou a noite e o Intimidades grandioso numa simples eira de aldeia. Antes do espetáculo começar, ainda houve tempo para passarem pela adega e provar os nossos licores. Cada espetáculo, tem a sua história, e esta escreveu-se com palavras de generosidade e aventura comunitária.
Que bom fazer parte desta Alviobeira que vai acontecendo por todo o lado.

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