PRESÉPIO AO VIVO

22 dezembro 2015







 

O fim do ano aproxima-se e com ele a revista aos acontecimentos que nos marcaram ao longo do ano.
Um olhar apressado por tudo aquilo que foi feito e parece-nos muito para um Grupo que trabalha todo ele em regime de voluntariado.
Para além das habituais actuações em Festas e Festivais de Folclore foram muitas as actividades desenvolvidas. O plano de actividades do RFEA é diversificado e para todos os gostos.
Se no inicio do ano, apostamos na criação e ensaio de espectáculos mais arrojados e contemporâneos como o Pulsações ou Intimidades, no último semestre embarcamos nos mercados e feiras, vindima e apanha da azeitona, ronda das adegas, e passamos a ter as mãos calejadas e a sentirmo-nos verdadeiramente homens e mulheres do campo.
Como alguém diz: Os mercados dão saúde, e é aqui que surgem os sonhos e o projeto de um dia criarmos a nossa marca e termos um espaço, como o lagar de Alviobeira, ou a antiga taberna do Candonga, para venda dos nossos produtos e realização de atividades culturais.
A aposta enriquecedora no ciclo do vinho e do azeite, será para repetir nos anos que se seguem, bem como algumas das iniciativas que começaram a fazer parte da agenda de muitas pessoas.
Talvez seja a época de Natal, ou a recordação das actividades desenvolvidas, a verdade é que uma certa nostalgia apodera-se de nós, saudades de momentos, de pessoas que já não estão entre nós, de uma Alviobeira de outros tempos onde o espírito comunitário era mais intenso e mais verdadeiro.
Nós vamos fazendo a nossa parte, fazendo com que Alviobeira aconteça, apostando na dinamização desta terra, desenvolvendo actividades que permitem o encontro entre a comunidade, a animação de rua, fazendo de Alviobeira, uma terra onde as pessoas se encontram e convivem na rua, onde há barulho de crianças e sons de animais, onde os mais velhos passeiam e falam com os mais novos, onde se aquece o coração e a alma com um simples café de cafeteira, uns velhoses, ou uma pinga da Runfeira.
E foi assim neste domingo, no largo do Coval, também ele carregado de simbolismo para as gentes de Alviobeira, que se realizou o Presépio ao vivo e nossa aldeia ganhou vida, movimento e cor.
Foram retratados vários quadros referentes à época que estamos a atravessar, bem como algumas actividades rurais e ofícios.
Venderam-se os nossos produtos: vinho, azeite, licores, vinagres, sal aromático, chás, entre outros, que podem bem serem utilizados como prendas de Natal.
A preparação do Presépio ao vivo não é fácil, a logística é gigante para um Grupo que não parou um segundo durante o ano. Mas o espírito de Natal, apodera-se de nós, nem podia ser de outra forma, dando-nos força para realizar mais uma actividade, e esta não é uma actividade qualquer, é tornar esta Alviobeira numa aldeia Natal.
Aos poucos queremos melhorar e engrandecer esta iniciativa, fazer de Alviobeira, uma aldeia que as pessoas queiram visitar todo o ano e ainda mais nesta época de Natal.
Tudo tem que ser montado no local, muitos são objetos a transportar, os animais, os utensílios, enfim todo o cenário, no final de contas são muitas horas de trabalho voluntário.
Mas afinal não é este o espírito de Natal? Aquele que parece andar esquecido, ou adormecido! Simplesmente DAR-SE!? Tão simples e tão dificil!
Para valorizar os cenários, recorremos a pessoas amigas, já habituadas aos nossos pedidos e às quais agradecemos desde já toda a disponibilidade e colaboração.
Para além dos amigos habituais, tivemos também a preciosa colaboração do Sr. Leonel António, que ao longo dos anos foi criando nos pavilhões da FAI, um núcleo museológico de grande valor, mas que infelizmente e vai-se lá saber porquê, carece de apoio e interesse por parte das autoridades competentes, para ganhar maior visibilidade e dignidade e devolver a tantas peças a importância que tiveram em outros tempos. Nós RFEA, estamos disponíveis para dar vida ao espaço e às muitas histórias associadas aos milhares de peças e utensílios existentes naquele espaço.
O tempo ajudou e as pessoas marcaram presença acarinhando mais uma vez o trabalho deste Grupo.
E o largo do Coval, fez lembrar os tempos em que ali se passavam divertidas tardes de domingo, animadas pelas cantigas, danças, brincadeiras e namoricos.
Resta-nos desejar a todos um Santo Natal e votos e um ano de 2016 cheio de projectos e sonhos.
Nós prometemos que continuaremos a sonhar e a realizar sonhos, nesta Alviobeira que para acontecer, basta querer.
Nós voltaremos logo no primeiro dia do ano, andaremos a cantar os Reis porta à porta e a desejar a todos um bom ano.


2 ª Ronda das Adegas

04 dezembro 2015















Pelo segundo ano consecutivo o RFEA realizou a Ronda das Adegas, uma iniciativa que surgiu do facto deste Grupo se ter dedicado em 2014 ao ciclo do vinho, fazendo pela primeira vez a produção do seu próprio vinho e água pé.
Em boa altura decidimos apostar nesta Ronda que teve desde o primeiro momento grande aceitação e rasgados elogios. Este ano, e porque o ano passado a Ronda logo na sua primeira edição tinha surpreendido, trabalhámos ainda mais para não defraudar as expectativas. E se a fasquia estava lá bem no alto, pensamos que conseguimos, este ano, mantê-la.
O ano de 2015, foi para este Grupo o ano dedicado ao Ciclo do Azeite, vivemos emoções únicas com a apanha da azeitona e com a sua moagem no lagar. Descobrimos a magia dos lagares de azeite, aprendemos a apreciar o cheiro e o sabor desta gordura vegetal de grande aproveitamento a todos os níveis. Isto foi o suficiente para juntar à Ronda das Adegas a passagem por alguns lagares de azeite existentes na freguesia mas que infelizmente já não se encontram em funcionamento. Pelos locais que passámos, fomos provando vinho, azeite, licores, tudo produção deste Grupo.
Difícil a tarefa de colocar em palavras os momentos vividos e sentidos na 2ª edição da Ronda das Adegas.
Foi um dia intenso, cheio de emoções e de memórias. Em alguns momentos houve olhos rasos de água, pela intensidade dos momentos ou apenas pelas saudades, noutros risos de alegria e puro divertimento proporcionado pelo convívio e pelas encenações que foram feitas ao longo do percurso. O dia dedicado à Ronda da Adegas é, para quem participa, um dia longo, intenso e cansativo para o corpo, mas grandioso para alma, que fica mais “aberta”, mais leve, liberta e enriquecida. Há quem diga que são muitas coisas num só dia, mas o objectivo é esse mesmo, a ronda não termina no fim do dia, acompanha-nos durante toda a noite; que apesar do cansaço ser muito nem sempre é fácil dormir; e também durante toda a semana. Nos dias que se seguem a nossa mente incumbir-se-á de rebobinar os momentos vividos, os pormenores observados, os cheiros sentidos, os sabores provados e todo esse banquete servirá para nos “alimentar” nos momentos mais solitários e intimistas.
São as vitaminas necessárias para uma vida saudável, às vezes ali mesmo à mão de semear e que muitos teimam em ignorar.
A ronda é por assim dizer um armazenar de emoções, para depois serem digeridas com calma e lentamente durante os dias que se seguem.
A ronda teve início pelas 8H30 em Alviobeira onde foi servido o mata bicho (passas de figo e aguardente), logo seguido de umas sopas de cavalo cansado e um caldo quente de couve, feijão e massa. E com o estômago reconfortado e aquecido, deu-se início a uma ronda que percorreu as ruas de Alviobeira e passou pelo Vale Carneiro, Outeiro, Freixo e Ceras. A Runfeira foi o lugar escolhido para o descanso merecido dos “guerreiros” e não podia ser de outra maneira, lá está a nossa adega e o nosso azeite foi produzido com as azeitonas da Quinta da Runfeira.
E com os produtos que esta terra nos dá, com a alegria que vem de dentro, com a genuinidade desta gente, estão reunidos os ingredientes necessários para um dia bem passado.
Os momentos musicais estiveram a cargo do Hugo Mendes, Dora Antunes, Ana Fernandes e Jorge Roberto e tiveram lugar na casa do Sr. Armando no Freixo, no Lagar da Boucha em Ceras, na quinta da Runfeira e no lagar em Alviobeira.
O resto da animação esteve a cargo dos elementos do Rancho, verdadeiros artistas e o workshop sobre azeite e suas utilizações foi dado pela Ti Júlia no lagar de Cêras. A preparação da Ronda das adegas não é fácil, a escolha dos lugares a visitar e limpeza de alguns, a definição da rota, a preparação da animação e a confecção da comida, envolve todo o Rancho que “perde” muitas horas na organização do evento.
Querer fazer muito, com pouco, é sempre o ponto de partida deste Rancho. De referir que esta organização embora seja gigante, é patrocinada pelo Rancho, componentes e amigos, e que não tem orçamentos milionários, a sua única riqueza, como diz o poeta é ver. E para ver melhor é preciso voar mais alto, arriscar, lançar-se à aventura.
Por fim, como não podia deixar se ser um obrigado ao donos das adegas, lagares, tabernas e casas e celeiros que abriram as portas e permitiram que esta Ronda fosse aquilo que foi: espetacular!
E desta forma, Alviobeira acontece!

2ª Ronda das Adegas

25 novembro 2015

CICLO DO AZEITE - LAGAR

05 novembro 2015

 
Era uma vez Um lugarzinho no meio do nada
Com sabor de chocolate E cheiro de terra molhada...”
 
Não sei se tem sabor a chocolate,
mas o meu lugarzinho no meio do nada
Tem, certamente sabor a azeite
E cheiro a terra molhada.
 
Desde sempre me lembro de participar nas atividades agrícolas da família, sempre gostei do cheiro da terra molhada, ainda hoje um dos meus preferidos, de sujar as mãos com a terra, de correr pelos campos, de apanhar banhos de chuva, de subir às árvores, de plantar, semear e colher, do ar puro e da sensação de liberdade que só a terra e o mar podem dar. Se os meus avós sempre viveram da agricultura, os meus pais tiveram outra profissão, mas isso nunca os impediu de plantar e colher alguns dos seus alimentos, e claro está as filhas eram “obrigadas” a ajudarem nas tarefas agrícolas. Na verdade nunca o senti como uma obrigação, mas como uma dádiva principalmente quando se tinha o prazer de ter à mesa os “nossos” produtos, que só por serem nossos pareciam ter outro sabor, e claro está outro cheiro. Hoje senti-mo agradecida pela partilha de saberes, pelos conhecimentos transmitidos pelos meus avós e pais, e das memórias que hoje tenho. Dizem que devemos mudar as folhas mas nunca perder as nossas raízes, as minhas são profundas e fortes e levam-me a um lugarzinho no meio do nada (mas onde tudo acontece) com cheiro a terra molhada. As recordações são muitas, mas se tivesse que eleger a tarefa do campo que mais gosto, escolheria a vindima e a apanha da azeitona, agora reavivadas com os ciclos do vinho e do azeite desenvolvidos pelo RFEA. Para falar verdade lembro-me mais da vindima do que propriamente da apanha da azeitona, talvez pelo facto da primeira ser em tempo de férias onde a disponibilidade era maior e a segunda em época escolar. Da azeitona, lembro-me do lagar de Alviobeira a funcionar ali mesmo junto à paragem do autocarro, do cheiro intenso que de lá saía, da movimentação, do bagaço que era atirado pela janela e ficava ali mesmo junto à rua e claro está dos piropos dos rapazes, sempre atentos à saída das raparigas do autocarro. Em casa lembro-me que à noite, durante algumas semanas, dava-se continuidade ao trabalho, escolhendo alguns ramos e fazendo a limpeza da azeitona. E claro está, lembro-me do paladar do azeite novo quase sempre provado nas couves cozidas com batatas, acompanhadas com umas azeitonas retalhadas, e com a água-pé ou o vinho novo. Mas se eu tenho estas memórias, alguns dos componentes do Rancho nunca tiveram este contacto com o campo. Como eles, muitas crianças hoje em dia, até mesmo as que vivem no campo, não conhecem nem participam na agricultura familiar, vai-se lá saber porquê. Conta-me e eu esqueço. Mostra-me e eu apenas me lembro. Envolve-me e eu compreendo (Confúcio). Assim hà dois anos não houve outra alternativa que envolver os componentes do Rancho nas lides agrícolas e deitámos mãos (neste caso) à terra e realizámos o ciclo do pão em 2013 seguindo-se em 2014 o ciclo do vinho e este ano, o ciclo do azeite, permitindo a alguns componentes terem o primeiro contacto com estas actividades. Debrucemo-nos na apanha da azeitona, feita pela primeira vez este ano. Dois sábados passados na Quinta da Runfeira, local onde fica o nosso olival foram os suficientes para ficarmos rendidos à apanha da azeitona. Foram dois dias de trabalho, mas também de saudável convívio, de encontro, de risos descontraídos e conversas não arquitectadas. O trabalho fez-se sem sacrifício e o resultado final, 1260 Kg de azeitona, encheu-nos de orgulho. No olival apanhámos a azeitona, na capoeira das avestruzes montámos o estaminé da limpeza da azeitona e debaixo do alpendre fizemos os nossos longos, fartos e deliciosos almoços. E se já sabíamos dos benefícios do azeite, ficámos a conhecer os da apanha da azeitona. Descobrirmos ser uma óptima terapia par a o stress e combate à depressão, não fosse o cenário único, a sequência do trabalho relaxante e as conversas verdadeiras sessões de psicologia. De forma a proteger os trajos optámos por fazer gravações e fotografias do processo antigo e depois já sem os trajos optámos por recorrer aos utensílios mais modernos, agora ao nosso dispor. Se a alegria nos acompanhou durante estes dias, intensificou-se no carregamento dos sacos e na ida para o lagar. Por fim o lagar, onde tudo se transforma, e nós estávamos ansiosos por este momento, e lá fomos em romaria para o Casal de Stª Iria (Chãos) dispostos a sair de lá apenas quando tivéssemos acompanhado todo o processo. Os lagares ao longo do tempo foram obrigados a modernizarem-se, não havendo na região nenhum lagar antigo em funcionamento. Optámos pelo lagar do Sr. Manel, no Casal de Stª Iria, nos Chãos, embora já modernizado, o mais aproximado do antigamente. Chegámos ao local com vontade de ver e aprender, e a comitiva quase que assustou os trabalhadores do lagar, habituados a visitas, mas não desta dimensão. E por lá andámos, vendo e fazendo perguntas, que nunca ficaram sem respostas, valendo a paciência dos funcionários e dos donos. Um agradecimento ao Mestre António, filho do Sr.º Manuel, que trabalha no lagar desde os seus sete anos, hoje já com 52 e que foi respondendo às questões colocadas, explicando-nos aos poucos todo o funcionamento do lagar. O cheiro a azeite novo invade as narinas e apetece molhar uma sopa de pão naquele néctar vindo da azeitona esmagada. E este aroma ganha contornos ainda mais apetitosos quando se entra num lagar clássico, onde todo o trabalho ainda é feito manualmente. O vapor de água, intensifica os cheiros, que parecem querer entrar pela cabeça e por lá permanecem mesmo depois de abandonarmos o local. O processo consiste na chegada da azeitona e a respectiva pesagem, seguindo-se a moagem que consiste na trituração dos frutos, sem a retirada prévia dos caroços, até formar uma massa oleosa, cuja consistência é controlada adicionando-se água. Antigamente a moagem, era efectuada através de um moinho de pedra (granito), com geometria cónica (que ainda se pode encontrar no lagar mas que não se encontra em funcionamento). Este ao girar em cima de uma base de pedra, fazia a moagem das azeitonas, criando uma pasta, que é designada por massa de azeitona, actualmente a moagem efectua-se electricamente. Depois dois ou três homens vão colocando a massa já moída nos capachos, objecto em forma de disco plano e delgado, feito de fibras vegetais ou sintéticas, sobre o qual é distribuída a massa da azeitona, a fim de ser espremida na prensa. As seiras e os capachos são objectos importantes dos lagares sem os quais se tornaria difícil, se não impossível a prensagem da massa para a extracção do azeite nos lagares tradicionais. Tendo funções idênticas, as seiras e os capachos são, no entanto, completamente diferentes. O capacho que pode ser feito do mesmo material da seira, caracteriza-se por apresentar unicamente a forma de um disco plano e delgado, enquanto a seira que pode ser feita de esparto, juta ou ráfia e outras fibras vegetais, caracteriza-se fundamentalmente pela sua construção em forma de saca larga e circular, tendo na parte superior as abas e uma abertura chamada a boca da seira. Os carrinhos carregados com os capachos que contêm a pasta de azeitona, são colocados na prensa hidráulica. Aqui começa o processo de prensagem. Os capachos vão assim sendo comprimidos de modo a garantir a separação de uma mistura de água do azeite, nesta altura, ainda de cor negra. O produto que escorre da prensa inclui o azeite, e uma mistura de água e outros resíduos da azeitona, e vai para um “recipiente”, composto por duas partes uma mais larga e outra mais estreita. A parte inferior para onde vai a água e a parte superior onde fica o azeite, por ser mais leve. Com o tempo e por diferença de densidade, (o azeite é mais leve logo a água permanece no fundo e o azeite à superfície) o azeite destaca-se da água e é recolhido. A perícia do mestre lagareiro, neste caso do Sr. António, consiste em abrir uma torneira na parte inferior do pote de forma a mandar fora a agua e manter o azeite. Este trabalho exige muita perícia, mexendo a mistura com uma fina vara de madeira, (que no caso do Sr. António é feita de marmeleiro e tem cerca de 25 anos) para saber exactamente onde terminava a água e começa o azeite. Depois da prensa fica nos capachos o bagaço que é retirado dos mesmos e serve para alimentação dos porcos, para o lume ou usado como combustível para aquecer as caldeiras do Lagar do Azeite. (O bagaço é o subproduto obtido da extracção de azeite. Compreende a água de constituição da azeitona, a água de adição e lavagem e uma percentagem variável de produto sólido (epiderme, polpa e caroço de azeitona). Por fim o azeite é medido e colocado em recipientes para ser entregue ao cliente. Quando o azeite é entregue ao cliente é dado a conhecer o grau de acidez, que embora seja apenas um dos muitos parâmetros que devem caraterizar o azeite, continuar a ser entendidos erradamente por muitos como o único. A acidez é a percentagem de ácido oleico livre existente no azeite e ao contrário do que muitos dizem não está relacionada com o sabor. O nosso ciclo do Azeite terminará com a prova do mesmo, talvez numas batatas a murro com bacalhau assado, ou quem sabe numas simples couves com batatas e feijão seco, acompanhadas com umas azeitonas retalhadas. Será de certeza, na Quinta da Runfeira, onde também se encontra a nossa água-pé e vinho. Durante todo o Ciclo do Azeite, tirámos fotografias e efectuámos diversos vídeos, de forma a documentar todo o processo. É nossa intenção registar os momentos para posteriormente servirem como ferramentas de consulta e estudo. No inico de 2016, faremos uma exposição e apresentação de todo o ciclo. E assim, por cá, ao dar vida aos diversos ciclos, vamo-nos envolvendo cada um ao seu ritmo por esta terra, que tudo nos dá.

Limpar Azeitona

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APANHA DA AZEITONA

29 outubro 2015










No sábado passado, dia 24 de Outubro, Alviobeira voltou "a acontecer", com a Apanha da Azeitona, uma atividade promovida pelo RFEA, no âmbito do projeto “Ciclo do Azeite”.
Trata-se de uma atividade cujo objetivo passa por valorizar a terra e a agricultura mantendo vivas as tradições, usos e costumes de antigamente e quem sabe no futuro promover o desenvolvimento social, económico e cultural da região e o enraizar de laços afectivos à terra e à comunidade.
A iniciativa pretende dar a conhecer todo o processo de transformação do azeite que vai desde a apanha, à escolha e moagem da azeitona num lagar (o mais tradicional possível) e termina na produção do azeite.
Para além de todos os objetivos, a apanha da azeitona pretende, acima de tudo, despertar os sentidos dos participantes e ser um momento de festa e convívio entre todos.
Se durante os últimos anos, houve um afastamento das pessoas, principalmente dos mais jovens, ao cultivo da terra, aos poucos a tendência é de reverter a situação com o aumento da curiosidade e interesse da população mais jovem, que nestes anos de crise, passou a ver a agricultura como uma alternativa à falta de trabalho. Tem-se observado um regresso à terra, na esperança de que esta devolva o esforço, porque em tempo de crise e com a falta de emprego, a terra ainda parece fazer sentido.
Alviobeira sempre esteve ligada à actividade da extracção do azeite, de grande significado no que respeita à parte económica do agregado familiar, embora apresente-se nos dias actuais com menor relevância, por um lado devido à falta de tempo ou de interesse e à redução do número das nossas oliveiras, que ao longo dos anos foram sendo arrancadas. Parece ficar bem lá longe, a lembrança dos grandes olivais, de grande produção de azeite, de grande alegria, apesar do árduo trabalho.
O “nosso” olival fica situado na Quinta da Runfeira, associada a tantas memórias, não fosse ali que ficavam os Ranchos da azeitona que outrora vinham das Beiras e que por estas terras permaneciam durante todo o tempo da apanha da azeitona.
Como é hábito ouvir-se está tudo diferente, até o tempo, e como tal a apanha da azeitona começa hoje em dia muito mais cedo do que em tempos passados. Antigamente era geralmente nos inícios de Novembro (por tempos mais recuados em Dezembro) que se procedia à apanha da azeitona, a estender-se, por vezes, até ao mês de Janeiro.
Noutros tempos, o lagar de Alviobeira, hoje fechado, era nesta altura o ponto de encontro dos homens da aldeia, que ali passavam grande parte do seu tempo, para trabalhar, para saber como o azeite estava a fundir e para conviver.
O cheiro quente e intenso do lagar permanecia no ar durante vários meses.
Em Alviobeira, continua a tratar-se e a cuidar-se do que resta da pertença dos nossos antepassados, que as mãos e o conhecimento de quem sabe e os herdou teima em não deixar morrer, com alguma fé no futuro e (ainda) nas gerações futuras.
..."Em Portugal, a cultura da Oliveira perde-se nos mais remotos tempos. Segundo rezam as crónicas, os Visigodos já a deviam ter herdado dos Romanos e estes, possivelmente, tinham-na encontrado na Península Ibérica. Por sua vez, os Árabes mantiveram a cultura e fizeram-na prosperar, sendo que a palavra Azeite tem origem no vocábulo árabe al-zait, que significava "sumo de azeitona".
Até finais de século XII, em Portugal, não é mencionada a cultura da oliveira nem o interesse económico da sua produção. Contudo, no século XIII, o Azeite já ocupa um lugar importante no nosso comércio externo, posição que manterá posteriormente, podendo afirmar-se que esta gordura era um produto muito abundante na Idade Média.
Mais tarde, são as ordens religiosas que, com o seu papel na revitalização da agricultura, dedicam especial atenção ao fabrico do Azeite.
Resistente à seca, de fácil adaptação aos terrenos pedregosos, a oliveira tornou-se numa presença constante na agricultura portuguesa..."
Antigamente desde que as talhas tivessem azeite, os barris vinho e as arcas milho, o sustento da família, que era normalmente numerosa estava assegurado
Desde há muito que os benefícios do azeite são conhecidos para a saúde, não é por acaso que o azeite faz parte da dieta mediterrânica, hoje património imaterial da humanidade.
O Azeite sempre esteve presente nos recantos da vida diária dos nossos antepassados: era usado em mesinhas caseiras, males da alma, alimentação e Iluminação.
E se já conhecíamos os benefícios do azeite, ficámos no sábado a conhecer os da apanha da azeitona. Descobrirmos ser uma otima terapia para o stress e combate à depressão, não fosse o cenário único, a sequência do trabalho relaxante e as conversas verdadeiras sessões de psicologia.
Sendo a água um ser que nos premeia, um banho de chuva lavou-nos a alma e limpo-a de todas as impurezas, ficámos como a nossa azeitona depois de escolhida e limpa.
O tempo chuvoso, que se agravou da parte da tarde, foi convidativo a um almoço um pouco mais demorado. Foi um momento único de cheiros, sabores e saberes.
Existem momentos que passam e não deixam nada. Desaparecem no ar, esfumam-se... mas há outros ficam para nunca serem esquecidos, é isso que fica. Porque até mesmo os pequenos momentos, aqueles que ninguém liga, os insignificantes, têm cheiro. Um cheiro especial e só deles.
Este sábado ficou o cheiro e o sabor a queijo, a chouriço, a passas de figo, a nozes, a aguardente, a vinho novo, a pão cozido, a azeitona/ (azeite), a terra molhada... Cheiros que ficam na pele, na memória, no olhar e que deixam saudades.
Cheiros que contém mundos..
E com tão pouco... é tão fácil sentirmo-nos tranquilos e felizes!
 

3º MERCADO À MODA ANTIGA

13 outubro 2015

FOTOS: José Júlio Ribeiro

Pelo segundo ano consecutivo a chuva marcou presença no Mercado à Moda Antiga, mas este realizou-se, as pessoas marcaram presença e os produtos venderam-se. A verdade é que já vamos na terceira edição do Mercado, sendo que os últimos dois foram realizados debaixo de chuvas e ventos fortes. Diz a sabedoria popular que não há duas sem três, nós ficamos à espera que sejamos a exceção à regra e que para o ano o sol nos brinde com a sua presença, possibilitando a realização do mercado como planeado e com toda a grandiosidade que ele merece. Quando há coisas que não controlamos, nem compreendemos, o melhor é não perder muito tempo na busca de explicações, e deitar mãos à obra. Foi isso que fizemos, com a convicção que é no meio das dificuldade que se encontram as oportunidades. E este mercado foi de fato uma oportunidade única de reviver mais uma vez as tradições dos nossos antepassados, de encontro e de convívio, de dinamização da nossa terra e um espaço de aprendizagem e de busca de conhecimentos. Convictos de que tudo o que não nos destrói, torna-nos mais fortes e equipados com “couraças” resistentes e destemidas lá enfrentámos o ex-furacão Joaquim, que mesmo depois de deixar de ser furacão não abdicou de uma presença no nosso mercado, levando-nos a desconfiar que este “Joaquim” gosta do que é bom. E se uma depressão tornou o tempo instável, a nós deu-nos força e coragem para enfrentar mais este desafio. Desde há algum tempo que iniciámos os preparativos para o mercado, era nossa intenção fazer ainda mais e melhor que as edições anteriores. Fizemos reuniões, falámos com artesãos e donos de animais, preparámos as nossas próprias atividades, com o objetivo final de proporcionar às pessoas um mercado não só divertido mas didático. Se por um lado toda a logística do mercado, nos impede de o adiar, sugestão dada por alguns, por outro lado queremos retratar a realidade como ela era, simples e crua. Antigamente os Invernos eram longos e rigorosos, a vida das gentes do campo era dura e a venda dos produtos no mercado permitiam angariar algum dinheiro para comprar o porco que haveriam de criar e matar lá para o Natal, a compra do enxoval das filhas, a compra das mantas da azeitona e outros “luxos”. E houvesse sol ou chuva, os mercados faziam-se da mesma forma. Quantas vezes regressavam a casa, com uma molha no corpo, com os produtos não vendidos e sem dinheiro na algibeira. No sábado, os trabalhos começaram logo pela manhã. A construção dos currais para os animais, a taberna, a seleção dos produtos, a marcação dos preços, a confeção bolos e salgados, ocupou todo o dia de sábado, intercalado com as idas ao barbeiro para dar ainda maior realidade ao mercado através da caracterização das barbas e bigodes dos homens. Uma noite mal dormida, tamanha era a ansiedade e o domingo amanhecia para nosso desespero com chuva. Perante a instabilidade do tempo, os nervos começaram a apoderar-se de nós, parecia que tudo corria mal e nem as rezas da Ti Júlia nos pareciam valer de alguma coisa. Mas perante o “nosso” armazém cheio de produtos para vender, não havia outra opção, do que colocar as coisas na rua e ter fé, fosse o que Deus quisesse. E mesmo desfalcados, com muitos componentes doentes, obrigando a uma ginástica mais apertada, tudo se fez. As pessoas foram aparecendo e os amigos, pessoas tão importantes na nossa vida e na concretização do que somos hoje não faltaram. Os que fizeram questão em almoçar no nosso mercado, acabaram por fazê-lo de chapéu aberto, dando provas de que a persistência e a coragem não são sentimentos apenas nossos mas partilhados por tantos outros que tornam este mercado possível. Não foi o mercado que planeámos e sonhámos, era impossível alguns artesãos estarem presentes debaixo de chuva, e muitos dos donos de animais optaram por não virem e os presentes por resguardar os seus animais. Mas foi o mercado possível. A concertina ouviu-se e o fado cantado à desgarrada, pelos nossos amigos de Carregueiros, que desde já agradecemos a presença e a ajuda, (são momentos destes que nos unem e nos tornam mais próximos) animaram os presentes. Para maior animação do mercado, não faltou a nossa água-pé, os licores da Ti Júlia, os velhoses acabados de fazer da comadre Luísa, os pregões, o bailarico e os robertos. E um mercado faz-se não só de venda, mas de emoções, e este foi um mercado cheio de emoções fortes, sempre importantes por serem únicas, intensas e verdadeiras. Por fim um agradecimento a todos aqueles que tornaram o mercado possível e um desejo: que esta terra e esta gente de sonhos férteis, abençoada pela água, fortalecida pela aspereza do tempo e enriquecida pelo amor genuíno que brota em corações simples, possa criar raízes fortes, crescer e fortificar.
 






MERCADO À MODA ANTIGA

06 outubro 2015

MOSTRA DE CHEIROS E SABORES

Numa terra em que os cheiros são intensos e únicos e os sabores ficam gravados para sempre na memória, uma Mostra de cheiros e sabores, com a participação de todos os lugares da paróquia só poderia ser um sucesso. Dizem que quando é para dar certo, até os ventos sopram a favor, e aqui os ventos sopram de todos os lugares da paróquia que une esforços e congrega energias para a realização deste evento. Gosto particularmente desta proximidade, desta forma de encontro, destes dias de convívio que proporcionam o contacto, as conversas, os sorrisos à volta de coisas simples mas essenciais à vida. O adro da Igreja foi o lugar escolhido desde sempre para a realização dos "Cheiros e Sabores" e não podia ser melhor, lugar único e de uma beleza infinita, rodeado de verde, com o pinhal da quinta ali mesmo ao lado e com uma vista a perder-se no horizonte, local onde as palavras do poeta ganham ainda mais força…"da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do universo por isso a minha terra é tão grande como outra terra qualquer… nas cidades a vida é mais pequena que aqui na minha casa no cimo deste outeiro…" A Mostra de Cheiros e Sabores, foi uma iniciativa do Conselho Pastoral e Paroquial de Alviobeira, à qual o Rancho de Alviobeira se associou, fazendo neste dia o seu Encontro de Folclore Infantil e nos últimos dois anos realizando os quadros etnográficos em estátuas vivas sobre o tema do evento, o ano passado dedicado às vindimas e este ano ao tema arte e ofícios. Somos como o arroz doce e se há festa nós estamos lá. E nós estivemos por lá, como aliás estamos durante todo o ano, em diversas atividades organizadas por nós ou por outras associações, organizações ou coletividades, não porque gostamos de aparecer, mas porque gostamos de fazer (às vezes tão discretos que quase invisíveis). Este é um trabalho continuado, longo, difícil e exigente, mas recompensado pela presença de muitos e pelas palavras e gestos de tantos outros. Este é talvez o único evento que congrega todos os lugares da paróquia, antiga freguesia de Alviobeira, hoje integrada na união de freguesias Casais Alviobeira e que só por isso vale a pena ser realizado e acarinhado. Quem sabe se no futuro o evento não poderá ser alargado a toda a freguesia, e ganhar ainda uma maior dimensão, sendo talvez esta uma das formas senão a única de trabalhar no futuro. Não é por acaso que o Rancho de Alviobeira tem nos últimos anos realizado diversas atividades por todos os locais da freguesia, fazendo o ciclo do pão no Chão das Eiras, levando o Intimidades a Ceras e aos Calvinos e realizando as estátuas vivas em Ceras, havendo já a promessa de no próximo ano ir até ao Ventoso e Portela de Nexebra. Participaram no evento, os lugares de Alviobeira, Ceras, Chão das Eiras, Freixo, Manobra, Portela de Nexebra, Benfica e Ventoso, com tasquinhas dedicadas ao tema Artes e Ofícios, tendo sido contemplados, o tanoeiro, tecedeira, cesteiro, sapateiro, moleiro e carpinteiro. As tasquinhas que capricharam no que respeita à decoração estavam igualmente recheadas dos mais variados petiscos dos doces aos salgados. Muitas são as pessoas envolvidas neste evento, que não poupam esforços na decoração das suas tasquinhas e na recolha de alimentos para vender nesse dia. Um esforço louvável, que deve ser reconhecido por todos, nem que seja apenas através de uma visita. Por volta das 15H30 e durante aproximadamente uma hora, apresentámos mais uma vez os nossos quadros etnográficos em estátuas vivas, também eles dedicados ao tema artes e ofícios e a animação foi total. A tarde de folclore Infantil teve início pelas 17H30 e contou com a presença do Grupo da Casa, como não podia deixar de ser, com a Escola de Etnografia da Casa do Povo de Cacia, que regressou a Alviobeira após 10 anos de ter estado por estas bandas e a Escola de brincadeiras tradicionais do R.F da Linhaceira. Perante os olhares embevecidos de toda a família, os “nossos” pequenos dançaram e encantaram. De referir que a Mostra de Cheiros e Sabores foi o momento escolhido para a apresentação do quadro que o artista Tó Carvalho pintou sobre o centenário da primeira guerra mundial e cuja exposição em Alviobeira já tínhamos prometido. Como o evento é uma parceria entre o Rancho e o Conselho Pastoral Paroquial de Alviobeira, o resultado financeiro do evento será repartido, sendo que a parte do CPP é entregue rotativamente às diversas capelas da paróquia, sendo este ano contemplada a capela dos Chão das Eiras. Como o "nosso" trabalho não se esgota numa única atividade, aqui estamos nós a preparar o III Mercado à Moda Antiga que promete surpreender e que terá lugar já no próximo dia 11de Outubro na Rua do Comércio e Rua da Fonte em Alviobeira, durante todo o dia. Será uma oportunidade única para passear, divertir-se, comer, fazer compras e passar uma tarde diferente em ambiente familiar. E já sabem, nós estaremos por cá faça sol ou faça chuva, porque Alviobeira acontece!

9ª MOSTRA DE CHEIROS E SABORES - ENCONTRO DE FOLCLORE INFANTIL

21 setembro 2015

Estátua Vivas - ARTES E OFÍCIOS

07 setembro 2015


Na sexta feira dia 28 de Agosto fomos novamente à rua de S. João apresentar as "nossas" estátuas vivas, desta vez à volta do tema arte e ofícios. Um obrigado especial ao Restaurante Pizzeria "O Siciliano" pela aposta no nosso trabalho e pela divulgação do mesmo. No final da noite, na altura dos agradecimentos dissemos que a rua de S. João estava a tornar-se a nossa casa, já que nos sentíamos naquela rua como na nossa terra... na nossa aldeia... na nossa casa... deve-se a isso a hospitalidade e a simpatia das pessoas, a forma como somos recebidos, e aposta frequente, sem medos e reservas no nosso trabalho. A noite estava agradável, e pela rua distribuímos os vários quadros, nomeadamente: o barbeiro, costureira e alfaiate, sapateiro, cesteiro, tanoeiro, vendedora, bordadeiras, tecedeira, parteira, Sr. Doutor, Sr. Prior e a curandeira. Desta vez apresentámos os quadros de uma forma diferente, recorrendo à narração de uma história sobre uma aldeia, de seu nome de S. João, cujos os habitantes desempenhavam as atividades atrás referidas. À medida que a história ia sendo contada, os quadros ganhavam vida por alguns momentos, ficando depois imóveis, permitindo ás pessoas, passaram, apreciarem e recordarem. No fim da noite, ainda houve tempo para o bailarico, porque festa que é festa tem que ser cantada e dançada. Ainda tempo para uma refeição saborosa, assim como são todas as refeições confecionadas com amor. Mais uma vez um obrigado do tamanho do nosso coração à Ana Bela Santos e ao Restaurante Pizzeria "O Siciliano". É bom ter amigos assim.

Participação no programa VERÃO TOTAL

Quando somos chamados a representar a nossa terra e o nosso concelho (Tomar), é com prazer e muito orgulho que o fazemos. São 27 anos a representar esta terra, os seus usos e costumes, sempre com muita paixão e vontade de fazer mais e melhor. Se cantar e bailar é muito bom, desde cedo, descobrimos outras formas de transmitir as tradições dos nossos antepassados. E desde essa altura nunca mais parámos, tem sido uma busca inquietante mais gratificante. E todos os anos trabalhamos no sentindo de criar novas formas de levar a etnografia mais longe e a novos públicos. Neste sentido temos criado e apresentado espetáculos como o Intimidades, Pulsações, Terra Fértil, Estátuas Vivas, bem como recriações de matanças, mercados à moda antiga, romarias, peregrinações, realizado exposições, realizado e documentado ciclos rurais como o do pão, vinho e azeite e produzido filmes. Tem sido um trabalho difícil, mas ao mesmo tempo enriquecedor. Quando somos chamados a participar num programa de televisão, normalmente apenas nos é dado um período bem reduzido de intervenção, sabemos que em televisão todos os minutos são importantes, mas se isso acontece deve-se à falta de conhecimento de muitas pessoas sobre o trabalho que os Ranchos desenvolvem na recolha, preservação e divulgação de uma entidade cultural que é a nossa. Quisemos no Verão Total apresentar para além da dança e da música uma das muitas catividades que desenvolvemos, agradecemos para tal a oportunidade que nos foi dada pela equipa do Verão Total, aliás muito simpática e profissional. Foi assim que levámos os quadros etnográficos em Estátuas vivas. Para quem tem curiosidade sobre o aparecimento da ideia de fazer os quadros etnográficos, contamos a história da primeira vez que os fizemos. Em 2003 realizámos uma exposição de fotografia, as fotos foram expostas nas paredes exteriores das casas em diversas ruas de Alviobeira, (e que devido à aceitação permanecem até hoje) e no dia da inauguração queríamos fazer alguma coisa diferente. A exposição intitulava-se "O Corpo em movimento" e documentava o movimento na dança, e nós queríamos mostrar que esse movimento era mais que a dança, era mais que o palco, que era um movimento muito mais abrangente que passava por trabalhar a ideia do cultivar (continuar) um passado (história) das nossas raízes ligada à nossa entidade cultural. Representámos então quadros etnográficos, recorrendo à imobilidade, tal como as fotografias, mas reais. Como os quadros eram imóveis verificámos que isso permitia às pessoas olharem e voltarem a olhar. Era como pegar numa fotografia e observar e deixar vir à memória todas as recordações que aquela “fotografia” despertava: pessoas, momentos, cheiros… muitas recordações …. E as pessoas passavam, olhavam, e ficavam largos minutos a olhar e a deixar as memórias invadir-lhe a alma e o coração, depois começavam a falar e a contar histórias. Os mais velhos aos mais novos, uns com os outros e até monólogos, em todos os casos, oportunidades únicas de aprendizagem e conhecimento. E desde esse momento as estátuas nunca mais pararam. A escolha dos quadros etnográficos para o verão Total, teve a ver com a importância de três elementos na vida das gentes de Alviobeira, nomeadamente o azeite, o vinho e o pão. Três ciclos, que temos vindo a desenvolver e a documentar desde 2003 e que tem também como objetivo o desenvolvimento social, económico e cultural da região e o enraizar de laços afetivos à terra e à comunidade. Se durante alguns anos, foi-lhe dado menos importância, hoje em dia eles começam aos poucos a ganhar a importância de outros tempos. Como na vida tudo é cíclico, aquilo que foi abandonado em tempos, nomeadamente a agricultura está a ser retomada principalmente pela população mais jovem, também como alternativa à falta de emprego. Esse interesse pela agricultura ainda se reveste de maior importância porque vem associado à vontade de proteger os alimentos, recorrendo à agricultura biológica e não ao uso excessivo de químicos. Antigamente desde que as talhas tivessem azeite, os barris vinho e as arcas milho, o sustento da família, que era normalmente numerosa estava assegurado. Não é por acaso que o azeite faz parte da dieta mediterrânica, hoje património imaterial da humanidade. Era usado em mesinhas caseiras, males da alma como o mau olhado, alimentação e Iluminação O vinho era usado não só como elemento de convívio mas também de alimento/ sustento. Até há pouco tempo, em muitas aldeias do interior dava-se vinho às crianças ao pequeno almoço. Usava-se as sopas de cavalo cansado para dar força para o trabalho do campo, que não era fácil. O pão o alimento por excelência. Sempre presente em todas as refeições. Apresentámos também um quadro de artes e ofícios, e como não podia deixar de ser tivemos que levar a tecedeira. Alviobeira era terra de tecedeiras, muitos são os teares e as peças feitas nos mesmos. Durante anos, a Ti Leonor, componente do Rancho e tecedeira de ofício, fez muitas peças no tear, hoje usadas nos nossos trajos. Mas nem só de trabalho viviam as gentes de Alviobeira, era nas romarias e festas que se faziam que se vestiam os melhores trajos e eram dias de oração e convívio. E o convívio passa obrigatoriamente pela partilha da comida e pela dança. Assim foi a nossa passagem pela Verão Total com a apresentação da moda: Amor seguimos ao Norte e apresentação de quadros etnográficos em estátuas vivas.