RONDA DAS ARTES E OFÍCIOS

20 dezembro 2023
























Saborear os sentidos de Alviobeira, numa ronda pelas artes e ofícios foi a proposta do RFEA para o domingo, 10 de dezembro.

Desde 2019 que a ronda estava parada, devido a dois anos de pandemia e um último ano que optámos pela realização do Mercado à Moda Antiga em detrimento da Ronda. Este ano deixámos o mercado para 2024 e optámos por fazer mais uma Ronda.

Desde a escolha do percurso, dos espaços a visitar, das atividades a realizar em cada paragem, até à preparação da comida: mata-bicho, almoço, buchas e ceia, muitos são os pormenores a preparar e a ter em atenção.

Ao realizarmos uma Ronda, sabemos de antemão que estamos a trabalhar no campo das emoções e por isso, nada será fácil, mas ao mesmo tempo torna-se aliciante e inspirador.

Damos tudo a esta Ronda, muito é o trabalho físico e mental, mas sabemos que iremos receber muito mais; encontros, partilha de histórias, dádivas, ofertas, “portas escancaradas” que nos enchem a alma e fazem-nos acreditar que a generosidade existe e que a humanidade ainda tem futuro.

Mas nem tudo são rosas. Na preparação de qualquer Ronda há sempre contratempos, e esta ronda também os teve, não os suficientes para baixarmos os braços, pelo contrário, foi nas adversidades que encontrámos força para prosseguir, sempre com o objetivo de proporcionar experiências sensórias únicas.

Houve de tudo, desde quem nos quisesse fazer acreditar que as paredes não falam, que se trata apenas de “casas velhas” desprovidas de história e memórias; mensagens com um simples “não…de todo não”, recebemos títulos de manipuladores, quando apenas tentávamos explicar o propósito da ronda, utilizando exemplos para clarear as nossas intenções… enfim no fundo, tudo serviu de reflexão e aprendizagem.

Só agora, para quem não nos conhece, deixar aqui bem claro que a nossa “área científica também sempre esteve ligada à investigação, desde a arqueologia, etnografia e defesa do património”, valorizamos, no entanto, os quatro elementos da aprendizagem: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser…e sim, às vezes é preciso muita conversa. Neste grupo, ainda acreditamos no poder das conversas, como ferramenta para mudar o mundo. Desde o início da humanidade, as conversas têm sido a principal forma de comunicação entre as pessoas. Elas permitem-nos expressar os nossos sentimentos, compartilhar as nossas ideias e trocar informações.

Falemos agora de coisas mais importantes e produtivas. Nesta ronda revivemos vários ofícios: sapateiro, barbeiro, alfaiate, bordadeira, costureira, cozinheira, boleira e ourives. Atravessámos épocas, adequando a indumentária aos espaços e épocas retratadas. Saboreamos “petiscos” uns feitos pelos componentes do Rancho e/ou pelos seus familiares, outros cedidos por alguns benfeitores que apenas perguntam: “O que é preciso fazer?” O arroz doce e os bolinhos da Isabel, a torta de bacalhau, carapaus fritos e bolo da Cesaltina, o bolo chifom da Guilhermina, as tigeladas do Sr. Armindo e o vinho do Abel e do Ezequiel, tornaram as nossas mesas mais apetitosas.

Quanto aos espaços visitados começamos com a simplicidade das casas antigas da aldeia,

a casa do Ti sapateiro, da Ti Palmira e do Ti Padeiro, a Casa da Ti Gracinda, a tasca do Candonga, Barbearia, a adega e oficina do Crespim, onde se encontrava o tanoeiro Houve ainda tempo para uma visita à antiga escola primária de Alviobeira (onde se realizaram as inscrições) e uma passagem pela fonte da aldeia.

Partimos depois em direção a Cêras, para visitar a casa do antigo Ourives, o Sr. António e sua esposa, a menina Judite. Uma casa antiga, bem imponente, situada em pleno Caminho de Santiago, bem perto da ponte de Cêras. O espaço está para venda e tem grande potencial, esperemos que encontre um dono capaz de devolver a dignidade a esta casa tão bem situada e com uma luz incrível.

Fomos até junto à ribeira, agora limpa, um trabalho da junta de freguesia, e ao som da água a correr na ribeira, juntou-se as notas de música que saiam do violino do Filipe.

Próxima viagem foi em direção ao Casal Velho, à casa do Sr. André e da Srª Sandra, onde ouvimos as vozes femininas numa homenagem às mães. Para homenagear a presença feminina da casa, de nacionalidade brasileira escolhemos Romaria, uma canção composta por Renato Teixeira em 1977. De letra simples, a música tornou-se muito popular por homenagear Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil, e também por fazer referências ao caipira e ao romeiro.

Seguimos em direção à Igreja Nova, mas fizemos antes uma paragem na cozinha da Maria Lourenço, conhecida por muitos os que iam na Ronda, pois foi a cozinheira e boleira dos casamentos na década de 60/70. Ouvimos dizer várias vezes:” foi ela que fez a boda do meu casamento!”.

Já na Igreja Nova, encontrámos a Quinta José & Maria, uma casa verde, ali bem perto da AMI. Podemos ler no seu Instagram “uma família luso-brasileira remodelando uma casa de 1940 com as próprias mãos”. É isso, o casal Paula e Vanderley compraram esta casa e desenvolveram um trabalho espantoso de recuperação. Dizem que não foram eles que escolheram a casa, mas que foi a casa que os escolheu, foi sem dúvida a melhor escolha.

Atualmente a casa recuperada é um alojamento local e recebe hóspedes/ amigos de todos os lados do mundo.

Quando lá chegamos já as portas estavam abertas de par em par. O grupo de cerca de oitenta pessoas entrou casa dentro e visitou tranquilamente todas as divisões da casa.

No terraço da Casa, que tem uma vista fabulosa, leu-se um poema de Alberto Caeiro (da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no universo…) e a Balada da Neve de Augusto Gil, ao som do violino tocado pelo Filipe.

Animados pelo acordeão do Tomás e cantorias, chegámos ao Valgamito à Quinta das Pinheirinhas, que prima pelo requinte, bom gosto e cuidado nos pormenores.

Ao Eng.º António Cupertino, proprietário do espaço, um agradecimento pela generosidade na cedência do espaço. Agradecidos pela cordialidade e simplicidade com que nos recebeu na sua casa, quando aí nos dirigimos solicitando a quinta para a nossa atividade, agradecidos pela disponibilidade demonstrada ao fazer-nos 


 

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MERCADO - ANOS 60/70

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