FOTOS: José Júlio Ribeiro
Pelo segundo ano consecutivo a chuva marcou presença no Mercado à Moda Antiga, mas este realizou-se, as pessoas marcaram presença e os produtos venderam-se.
A verdade é que já vamos na terceira edição do Mercado, sendo que os últimos dois foram realizados debaixo de chuvas e ventos fortes. Diz a sabedoria popular que não há duas sem três, nós ficamos à espera que sejamos a exceção à regra e que para o ano o sol nos brinde com a sua presença, possibilitando a realização do mercado como planeado e com toda a grandiosidade que ele merece.
Quando há coisas que não controlamos, nem compreendemos, o melhor é não perder muito tempo na busca de explicações, e deitar mãos à obra. Foi isso que fizemos, com a convicção que é no meio das dificuldade que se encontram as oportunidades. E este mercado foi de fato uma oportunidade única de reviver mais uma vez as tradições dos nossos antepassados, de encontro e de convívio, de dinamização da nossa terra e um espaço de aprendizagem e de busca de conhecimentos.
Convictos de que tudo o que não nos destrói, torna-nos mais fortes e equipados com “couraças” resistentes e destemidas lá enfrentámos o ex-furacão Joaquim, que mesmo depois de deixar de ser furacão não abdicou de uma presença no nosso mercado, levando-nos a desconfiar que este “Joaquim” gosta do que é bom.
E se uma depressão tornou o tempo instável, a nós deu-nos força e coragem para enfrentar mais este desafio.
Desde há algum tempo que iniciámos os preparativos para o mercado, era nossa intenção fazer ainda mais e melhor que as edições anteriores. Fizemos reuniões, falámos com artesãos e donos de animais, preparámos as nossas próprias atividades, com o objetivo final de proporcionar às pessoas um mercado não só divertido mas didático.
Se por um lado toda a logística do mercado, nos impede de o adiar, sugestão dada por alguns, por outro lado queremos retratar a realidade como ela era, simples e crua. Antigamente os Invernos eram longos e rigorosos, a vida das gentes do campo era dura e a venda dos produtos no mercado permitiam angariar algum dinheiro para comprar o porco que haveriam de criar e matar lá para o Natal, a compra do enxoval das filhas, a compra das mantas da azeitona e outros “luxos”.
E houvesse sol ou chuva, os mercados faziam-se da mesma forma. Quantas vezes regressavam a casa, com uma molha no corpo, com os produtos não vendidos e sem dinheiro na algibeira.
No sábado, os trabalhos começaram logo pela manhã. A construção dos currais para os animais, a taberna, a seleção dos produtos, a marcação dos preços, a confeção bolos e salgados, ocupou todo o dia de sábado, intercalado com as idas ao barbeiro para dar ainda maior realidade ao mercado através da caracterização das barbas e bigodes dos homens.
Uma noite mal dormida, tamanha era a ansiedade e o domingo amanhecia para nosso desespero com chuva. Perante a instabilidade do tempo, os nervos começaram a apoderar-se de nós, parecia que tudo corria mal e nem as rezas da Ti Júlia nos pareciam valer de alguma coisa. Mas perante o “nosso” armazém cheio de produtos para vender, não havia outra opção, do que colocar as coisas na rua e ter fé, fosse o que Deus quisesse.
E mesmo desfalcados, com muitos componentes doentes, obrigando a uma ginástica mais apertada, tudo se fez. As pessoas foram aparecendo e os amigos, pessoas tão importantes na nossa vida e na concretização do que somos hoje não faltaram.
Os que fizeram questão em almoçar no nosso mercado, acabaram por fazê-lo de chapéu aberto, dando provas de que a persistência e a coragem não são sentimentos apenas nossos mas partilhados por tantos outros que tornam este mercado possível.
Não foi o mercado que planeámos e sonhámos, era impossível alguns artesãos estarem presentes debaixo de chuva, e muitos dos donos de animais optaram por não virem e os presentes por resguardar os seus animais. Mas foi o mercado possível.
A concertina ouviu-se e o fado cantado à desgarrada, pelos nossos amigos de Carregueiros, que desde já agradecemos a presença e a ajuda, (são momentos destes que nos unem e nos tornam mais próximos) animaram os presentes.
Para maior animação do mercado, não faltou a nossa água-pé, os licores da Ti Júlia, os velhoses acabados de fazer da comadre Luísa, os pregões, o bailarico e os robertos.
E um mercado faz-se não só de venda, mas de emoções, e este foi um mercado cheio de emoções fortes, sempre importantes por serem únicas, intensas e verdadeiras.
Por fim um agradecimento a todos aqueles que tornaram o mercado possível e um desejo: que esta terra e esta gente de sonhos férteis, abençoada pela água, fortalecida pela aspereza do tempo e enriquecida pelo amor genuíno que brota em corações simples, possa criar raízes fortes, crescer e fortificar.
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