SERRAR DA VELHA

07 março 2016

A meio da Quaresma, para cumprir a tradição o RFEA, realizou no passado dia 4 de Março, no CRC de Alviobeira o Serrar da Velha. Antigamente a Quaresma, era para todos, um intenso período de respeito e devoção. Dias e noites de grande temor, recato e recolhimento, marcados por longos jejuns e principalmente pela abstinência de carne, de todo o tipo, nem que fosse apenas na quarta feira de cinzas, em todas as sextas feiras, na quarta feira de trevas e na sexta feira da paixão. Tempo de silêncio profundo. Não havia bailaricos, cantar então, só se fosse as mais simples músicas que lembrassem as orações e as pessoas continham as gargalhadas. E o roxo, estava por todos os lugares onde se faziam preces e se exaltava o perdão. Tudo era quieto, quase parado. Os invernos eram rigorosos e se por um lado as chuvas fortificavam as terras por outro significavam dias e dias sem trabalho. A Aldeia ficava ainda mais escura e sombria. Quando a quarta-feira de cinzas era bem chovida, significava que a Quaresma ia ser molhada. E as previsões quase sempre se cumpriam. Se por um lado era um tempo de obscuridade, pelo sofrimento, paixão e morte de Jesus Cristo, por outro era um tempo de uma certa desordem. Ocorrências misteriosas, comportamento inexplicáveis, ameaças ocultas, lua cheia, ruídos desconhecidos, vozes estranhas, incêndios e afogamentos, tudo isto povoava o imaginário popular. Lobisomens, mulas sem cabeça podiam estar em cada canto escuro. Como antídoto a isto tudo, só penitência e oração, apesar de que alguns amuleto para afastar o mal e seus maléficos. Foi dentro desta mística, que este ano, o RFEA construiu o seu Serrar da Velha. O cenário era escuro e triste retratando os rigorosos Invernos e o período da Quaresma. Se por um lado tudo parecia proibido e pecado na Quaresma, ainda havia algumas brincadeiras permitidas tal como o engraxar (engraxar, engraxar, quando eu te mandar rezar reza, ortiga, ortiga seremos comadres/compadres para toda a vida), e claro está o Serrar da Velha. Os homens encontravam-se para planear o Serrar da Velha e escolher a velha a ser serrada. Este foi o mote para serem apresentadas “quatro velhas” possíveis candidatas ao Serrar da Velha, todas elas bem diferentes: a curandeira, a beata, a coscuvilheira e a santa. Alguns monólogos e contra cenas, serviram para falar de costumes antigos e tradições de outros tempos. No final como não podia deixar de ser serrou-se a velha e leu-se o testamento. Deixa-mos aqui registado que a velha deixou ao Rancho no testamento deste ano. - “Ó velha o que deixas a Alviobeira para esta não adormecer? - O melhor é apoiarem o Rancho se quiserem fazer Alviobeira acontecer.” - “ Ó velha e àqueles que têm dor de cotovelo do Rancho o que podes deixar? - Olha que façam melhor, pois é sempre mais difícil fazer do que criticar” - “Ó velha o que deixas ao Rancho que seja uma coisa de valor? - Força e coragem, mesmo quando o pé em cima lhe quiserem pôr.” - “Ó velha porque é que o Rancho de Alviobeira provoca tantos comichões? - Não sabes? É simples, porque fazem parte d’ele gente com “colhões.” As gargalhadas fizeram-se ouvir a medida que foi lido o testamento. Ainda faltava alguns dias para a Páscoa e para a alegria e cor povoarem a aldeia que até lá continuava triste e sombria. Assim terminou mais um Serrar da Velha. Agora já se trabalha na Conferência sobre o azeite “Por um fio” que realizar-se-á no próximo domingo dia 13 de Março, no antigo lagar de azeite de Alviobeira, das 15H às 17H30. Para além da conferência, haverá um pequeno documentário e exposição fotográfica sobre o Ciclo do Azeite desenvolvido pelo Rancho no ano passado.

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