Um dia para recordar por muitos anos!
No domingo de manhã os homens do Rancho, trajados e transportando a bandeira de Nª Srª
do Pranto começaram cedo o peditório em Alviobeira.
Pelas 10H, fez-se um intervalo para assistir à missa e
cumprindo a tradição os foguetes fizeram-se ouvir na altura que se cantava o
Santo na Eucaristia.
Depois da missa retomou-se o peditório.
Por volta das 16H, abri-mos as portas da nossa casa
(Museu Rural e Etnográfico de Alviobeira) para oferecer vinho (oferecido pela
Herdade dos Templários) e tremoços. E a casa foi pequena para tantos amigos que
recebemos.
Cá fora a animação era grande, enfeitavam-se as
bicicletas e as charretes com flores e mantas.
Nas casas a azáfama era ainda maior na preparação dos
farnéis, e na procura dos talheres, pratos, copos, toalhas de linho,
guardanapos e cabazes e cestas para transportar os farnéis. Procurava-se
receitas antigas e nas ruas todos falavam dos farnéis de outros tempos. Muitas
das nossas mães passaram a tarde na cozinha confecionando o coelho, a galinha, o
bacalhau frito, cozendo o pão no forna da lenha… e enchendo a casa de cheiros e
sabores de outros tempos que lhe enchiam a alma de recordações e os olhos de
lágrimas de saudade. A Sicarze patrocinou os nossos farnéis com chouriço, presunto,
tornando-os ainda mais deliciosos.
A noite foi mal dormida, tal era a ansiedade.
E quando o relógio despertou, logo saltámos da cama.
A primeira coisa a fazer foi olhar pela janela e olhar
o céu, estava limpo e os primeiros raios de sol apareciam.
Trajámos, pegámos na cesta do farnel e saímos porta
fora.
Era o dia do Círio a Dornes.
Com os farnéis debaixo do braço, ou à cabeça, lá fomos
nós até à Igreja Paroquial para a oração do peregrino. Em procissão, ao som da gaita-de-foles
e dos tambores, partiu-se da Igreja, até junto às galeras e charretes que nos aguardavam
no início da Rua do Comércio.
Os cavalos e as éguas com as respetivas charretes e
galera estavam à nossa espera, só possível graças ao Sr. José Manel, Sr. Luís,
Major Escudeiro e Sr. Victor, que aceitaram este desafio e que foram para nós
companheiros de peregrinação, partilhando vivências e emoções.
Uns de charretes, outros de bicicletas, outros de
carros antigos, rumamos até Dornes, em festa, cantando e acenando a todos
aqueles que encontrávamos pelo caminho.
Na eira em Paio Mendes, uma pausa para o descanso dos
cavalos e para a “bucha” da manhã.
Abrimos os nossos cestos e retirámos o nosso farnel confecionado
com tanto amor.
Chegados a Dornes, à nossa espera estava a Banda da
Frazoeira que nos acompanhou na procissão até à Igreja de Dornes e a quem muito
agradecemos.
Na missa ouviu-se os cânticos antigos, ensaiados pelo
coro de Alviobeira e pelos componentes do Rancho, durante algumas semanas.
Depois da Missa, abriu-nos novamente as
cestas e partilhou-se os farnéis.
Depressa chegou as 17H, hora para a
oração do terço.
À saída do terço, uma chuva “divina”
caiu e só parou quando chegámos à eira a Paio Mendes.
Completamente “molhados” mas felizes,
não parámos de cantar, e quando chegámos a Alviobeira, cantando o Avé e debaixo
de uma “chuva” de pétalas, as lágrimas teimavam em cair pelo rosto de muitos.
Á medida que entrávamos em Alviobeira,
os aplausos fizeram-se ouvir, e os nossos rostos brilhavam de alegria.
Fomos à igreja, era agora altura para agradecer a Nª Srª do Pranto o dia que nos tinha dado.
Quando saímos, a concertina fez-se ouvir
era agora altura para o bailarico.
Cantámos e dançamos, até o sol se pôr.
E partimos para nossas casas, com o
coração cheio, a transbordar…
Como é tão fácil ser feliz.
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