Participação no programa VERÃO TOTAL
07 setembro 2015
Quando somos chamados a representar a nossa terra e o nosso concelho (Tomar), é com prazer e muito orgulho que o fazemos.
São 27 anos a representar esta terra, os seus usos e costumes, sempre com muita paixão e vontade de fazer mais e melhor.
Se cantar e bailar é muito bom, desde cedo, descobrimos outras formas de transmitir as tradições dos nossos antepassados. E desde essa altura nunca mais parámos, tem sido uma busca inquietante mais gratificante. E todos os anos trabalhamos no sentindo de criar novas formas de levar a etnografia mais longe e a novos públicos.
Neste sentido temos criado e apresentado espetáculos como o Intimidades, Pulsações, Terra Fértil, Estátuas Vivas, bem como recriações de matanças, mercados à moda antiga, romarias, peregrinações, realizado exposições, realizado e documentado ciclos rurais como o do pão, vinho e azeite e produzido filmes. Tem sido um trabalho difícil, mas ao mesmo tempo enriquecedor.
Quando somos chamados a participar num programa de televisão, normalmente apenas nos é dado um período bem reduzido de intervenção, sabemos que em televisão todos os minutos são importantes, mas se isso acontece deve-se à falta de conhecimento de muitas pessoas sobre o trabalho que os Ranchos desenvolvem na recolha, preservação e divulgação de uma entidade cultural que é a nossa.
Quisemos no Verão Total apresentar para além da dança e da música uma das muitas catividades que desenvolvemos, agradecemos para tal a oportunidade que nos foi dada pela equipa do Verão Total, aliás muito simpática e profissional.
Foi assim que levámos os quadros etnográficos em Estátuas vivas.
Para quem tem curiosidade sobre o aparecimento da ideia de fazer os quadros etnográficos, contamos a história da primeira vez que os fizemos.
Em 2003 realizámos uma exposição de fotografia, as fotos foram expostas nas paredes exteriores das casas em diversas ruas de Alviobeira, (e que devido à aceitação permanecem até hoje) e no dia da inauguração queríamos fazer alguma coisa diferente.
A exposição intitulava-se "O Corpo em movimento" e documentava o movimento na dança, e nós queríamos mostrar que esse movimento era mais que a dança, era mais que o palco, que era um movimento muito mais abrangente que passava por trabalhar a ideia do cultivar (continuar) um passado (história) das nossas raízes ligada à nossa entidade cultural.
Representámos então quadros etnográficos, recorrendo à imobilidade, tal como as fotografias, mas reais.
Como os quadros eram imóveis verificámos que isso permitia às pessoas olharem e voltarem a olhar. Era como pegar numa fotografia e observar e deixar vir à memória todas as recordações que aquela “fotografia” despertava: pessoas, momentos, cheiros… muitas recordações ….
E as pessoas passavam, olhavam, e ficavam largos minutos a olhar e a deixar as memórias invadir-lhe a alma e o coração, depois começavam a falar e a contar histórias. Os mais velhos aos mais novos, uns com os outros e até monólogos, em todos os casos, oportunidades únicas de aprendizagem e conhecimento.
E desde esse momento as estátuas nunca mais pararam.
A escolha dos quadros etnográficos para o verão Total, teve a ver com a importância de três elementos na vida das gentes de Alviobeira, nomeadamente o azeite, o vinho e o pão.
Três ciclos, que temos vindo a desenvolver e a documentar desde 2003 e que tem também como objetivo o desenvolvimento social, económico e cultural da região e o enraizar de laços afetivos à terra e à comunidade.
Se durante alguns anos, foi-lhe dado menos importância, hoje em dia eles começam aos poucos a ganhar a importância de outros tempos. Como na vida tudo é cíclico, aquilo que foi abandonado em tempos, nomeadamente a agricultura está a ser retomada principalmente pela população mais jovem, também como alternativa à falta de emprego.
Esse interesse pela agricultura ainda se reveste de maior importância porque vem associado à vontade de proteger os alimentos, recorrendo à agricultura biológica e não ao uso excessivo de químicos.
Antigamente desde que as talhas tivessem azeite, os barris vinho e as arcas milho, o sustento da família, que era normalmente numerosa estava assegurado.
Não é por acaso que o azeite faz parte da dieta mediterrânica, hoje património imaterial da humanidade. Era usado em mesinhas caseiras, males da alma como o mau olhado, alimentação e Iluminação
O vinho era usado não só como elemento de convívio mas também de alimento/ sustento. Até há pouco tempo, em muitas aldeias do interior dava-se vinho às crianças ao pequeno almoço. Usava-se as sopas de cavalo cansado para dar força para o trabalho do campo, que não era fácil.
O pão o alimento por excelência. Sempre presente em todas as refeições.
Apresentámos também um quadro de artes e ofícios, e como não podia deixar de ser tivemos que levar a tecedeira. Alviobeira era terra de tecedeiras, muitos são os teares e as peças feitas nos mesmos.
Durante anos, a Ti Leonor, componente do Rancho e tecedeira de ofício, fez muitas peças no tear, hoje usadas nos nossos trajos.
Mas nem só de trabalho viviam as gentes de Alviobeira, era nas romarias e festas que se faziam que se vestiam os melhores trajos e eram dias de oração e convívio. E o convívio passa obrigatoriamente pela partilha da comida e pela dança.
Assim foi a nossa passagem pela Verão Total com a apresentação da moda: Amor seguimos ao Norte e apresentação de quadros etnográficos em estátuas vivas.
Publicada por Rancho F. E. Alviobeira
Etiquetas: Actividades
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