ARRAIAL DE S. PEDRO

05 julho 2016














Recuando alguns anos e vasculhando no universo das minhas memórias, encontro os arraiais populares por altura do S. Pedro, realizados quase sempre no Coval. Mesmo quando na aldeia não se fazia o arraial, na serventia de acesso à minha casa e à dos meus vizinhos, havia fogueira, balões e música, bastava para isso a existência de quatro jovens praticamente da mesma idade, que aproveitavam todos os momentos para divertirem-se.
O cheiro da fogueira que ao queimar as ervas aromáticas libertava um aroma único, o saltar da fogueira, a marcha inventada no momento e que todos seguiam e copiavam como tivessem ensaiado horas a fio, os sorrisos, as conversas animadas e o brilho nos olhos, tornavam os arraiais momentos especiais e importantes para a unidade da aldeia.
A marcha era na maior parte das vezes animadas pelas vozes dos presentes e por alguns instrumentos improvisados no momento e os arcos feitos com paus dobrados eram enfeitados com balões e flores de papel. Naquilo que alguns podem chamar de pobreza, residia a alegria de uma aldeia que para se divertir apenas cumpria uma regra: fazer-se presente.
A tristeza era a única a não ser convidada e não havia penalizações pelo não cumprimento das regras. O número de marchantes, de aguadeiros, a existência de cavalinho, de arcos com certos elementos, de figurinos e coreografias, de mascotes e padrinhos, eram coisas que não nos preocupavam. Continuo a gostar dessa simplicidade, gosto da espontaneidade e da alegria de um povo que para brincar e fazer festa, não precisava de mais nada, apenas do querer.
Nesses dias nunca ficava em casa, marcar presença nos acontecimentos e festas da aldeia foi uma herança da minha família habituada a trabalhar nas atividades da aldeia, nas comissões de festas, nas direções do CRC e que sempre contribuiu para a dinamização e crescimento desta terra.
Impregnada deste ambiente que me foi incutido e passado desde muito nova, aqui estou eu, em conjunto com os elementos do RFEA, a tentar reavivar o espírito comunitário de encontro e de convívio, que para divertir-se tem primeiro que trabalhar, só assim a alegria é mais intensa e duradoura, indo muito além dos dez minutos de “fama”.
A construção rima com transpiração e o trabalho é um elo que une as pessoas.
Acredito verdadeiramente que a solidariedade produzida pela divisão do trabalho fortalece o grupo tornando-o mais forte.
Todas as horas dedicadas à comunidade fomentando a amizade e os laços familiares de uma aldeia, são horas ganhas em crescimento pessoal.
Somos aquilo que fazemos e o que fazemos é aquilo que somos. Pena que hoje muitos tenham optado mais por parecer do que ser.
As coisas mudaram, algumas para melhor, outras nem por isso. Perdemos a simplicidade e a capacidade de encontrar a alegria nas pequenas coisas, de rir de banalidades, de fazer de cada momento um brinde à vida. Hoje só estamos bem onde não estamos. Uma insatisfação interior que nos leve a procurar longe aquilo que só podemos encontrar dentro de nós.
Cada vez mais tenho consciência de duas coisas: a primeira é que para ser feliz é preciso muito pouco (o cheiro do alecrim a queimar na fogueira, uma dança improvisada, três dedos de conversa e uma sardinha assada) a segunda é a de que quem mais dá mais recebe.
O arraial de S. Pedro, realizado no passado sábado no recreio da antiga escola primária, hoje cedida ao RFEA, numa noite agradável, teve fogueira, marchas, sardinha assada e conversas.
Os preparativos começaram logo a seguir ao almoço à medida que foram chegando alguns dos componentes dispostos a trabalhar e a fazer do trabalho festa.
A todos que dão tanto de si a esta terra e a todos que fazem questão em marcar presença nas nossas atividades o nosso sincero agradecimento.
Continuaremos a trabalhar para fazer Alviobeira Acontecer